Sagredo, Julia Hermosilla (1916-2009)

Nick Heath

 

juliahermosilla05Nascida em 1º de abril (há quem cite 31 de março) de 1916 em Sestao, na parte sul do País Basco Espanhol, Julia Hermosilla Sagredo foi a filha de Juan Hermosilla, anarquista e membro da CNT. Ela se juntou à CNT aos 14 anos de idade, assim como às Juventudes Libertárias. Ela foi uma distribuidora entusiasmada da imprensa libertária. Ela tomou parte nas atividades do Grupo Artístico Libertário de Santurce, o qual, entre outras atividades, organizava peças, nas quais desempenhava um papel.

Depois da revolta em Aragon, no inverno de 1933, ela teve um papel bastante ativo no trabalho de solidariedade a companheiras e companheiros que fugiram de La Rioja, e ajudou algumas dessas pessoas a cruzar os Pyrénées até a França. No ano seguinte, durante a insurreição de outubro de 1934, ela novamente teve um papel ativo no trabalho de solidariedade, em particular ao anarquista Vicente Cuesta e à família Aransaeaz Caicedo. Um membro desta família, Ángel, se tornou seu amor e companheiro vitalício.

Com a revolta franquista, se uniu a uma coluna miliciana. Ela lutou na frente de Ochiandio. Ela recebeu a tarefa de resgatar o célebre militante anarquista Isaac Puente detrás das linhas inimigas. Entretanto, antes que pudesse efetuar isso, ele foi apreendido e fuzilado. Durante o bombardeio de Ochiandio, seus tímpanos estouraram, e ela permaneceu surda por algum tempo.

Ela seguiu com suas atividades dramáticas no grupo Santurce durante 1937. Com a queda da frente norte e de Bilbao, conseguiu embarcar com sua família em um navio para a França durante o forte bombardeio ao porto de Bilbao. Entretanto, por terem lhes considerado “vermelhos”, demorou algum tempo até que lhes fosse permitido desembarcar.

Depois de dois meses na França, Julia atravessou a fronteira para a Catalonia com sua família.

Com a queda da república, fugiu para a França, onde foi internada em uma série de campos de concentração. Com a libertação da França, se estabeleceu com Ángel em Bayonne e teve parte na ala “colaboracionista” da CNT (esta tendência defendia uma aliança com socialistas e comunistas espanhóis).

Participou de várias missões clandestinas à região sul do País Basco Espanhol. Junto com Ángel, ela participou de várias tentativas de matar Franco, incluindo a famosa tentativa “aérea”, para a qual o militante anarquista frances Georges Fontenis também contribui, em setembro de 1948.

Ela deveria rememorar como companheiras e companheiros se encontravam no restaurante Aleas em Sán Sebastián e como se transportaram sobre os Pyrénées. Rteve participação no contrabando de jornais, panfletos, duplicadores, máquinas de escrever e dinheiro sobre a fronteira, atravessando em algumas ocasiões. Tudo isso foi vital para a florescente organização subterrânea no País Basco.

Em 1962, se aproximou da Defesa Interior, animada por Octavia Alberola, entre outras pessoas. Ela fez um reconhecimento do Palácio de Ayete em Sán Sebastián para preparar um ataque subsequente. No ano seguinte, ela foi para Madri para suprir os militantes Delgado e Granado com documentos falsos. Infelizmente, eles foram presos e, subsequentemente, garroteados.

Nos anos 1970, foi parte da tendência militante em torno do jornal no exílio Frente Libertario, que acreditava em conduzir uma campanha agressiva contra o regime de Franco. Ela e Ángel participaram das reuniões anuais desta tendência em Narbonne.

Depois da morte de Franco, ela participou dos esforços para reconstruir a CNT no País Basco Espanhol. Seu amor vitalício, Ángel Aransaez, morreu em novembro de 2001, em Anglet, na França, onde viviam.

Em 18 de junho de 2006, foi honrada em uma cerimônia em Archanda, junto com outras pessoas que combateram na resistência. Aqui, ela se lembrou dos 18 membros de sua família que foram assassinados em Treviana, na região de La Rioja, depois da revolta de Franco.

Ela morreu em Bayonne em 10 de janeiro de 2009. Seus testemunhos podem ser lidos no livro escrito por Aitor Azurki em 2011, Testemonios de los Últimos Gudaris y Milicianos de la Guerra Civil en Euskadi (“Testemunhos dos Últimos Gudaris e Milicianos da Guerra Civil em Euskadi”).

Em uma carta emocionada escrita quando tinha 90 anos, ela disse: “Tudo que eu e Ángel fizemos não foi importante… Eu não me arrependo de nada… Eu só tenho nostalgia pelo tempo mais feliz da minha vida, lutando ao lado do meu amor, Ángel Aransaez… Vida longa à gloriosa CNT!”.

 

Publicado originalmente em libcom
Traduzido por Cami Álvares Santos