Garaseva, Anna (1902-1994) e Garaseva, Tatiana (1901-1997+)

Nick Heath

 

Anna GarasevaAnna Garaseva e sua irmã mais velha, Tatiana, eram as filhas de uma professora que lecionava no ensino médio em Ryazan. Tatiana nasceu em 1901 e Ana, em 7 de dezembro de 1902. Em 1917, Tatiana foi admitida na Universidade de Moscou, onde assistiu às aulas do professor anarquista Alexei Borovoi. Tatiana se juntou ao clube anarquista estudantil composto primariamente de jovens mulheres. Ela se via como anarcossindicalista.

Com a morte do famoso anarquista Pyotr Kropotkin, sua família e associadas exigiram que o governo bolchevique libertasse anarquistas das prisões.

Entre esses anarquistas estava Aron Baron, Topilin (ele próprio de Ryazan, subsequentemente executada em 1921 por promover uma escapada da prisão) e outros indivíduos anarquistas, revolucionários socialistas e makhnovistas. Os professores universitários Borovoi e Karelin pediram ao líder da Tcheka (a polícia secreta), Dzerzhinsky, que libertasse os indivíduos aprisionados, mas ele se recusou. Borovoi então foi até Lunacharsky, que prevaleceu sobre o líder bolchevique Vladimir Lenin para a libertação de seis deles sob condicional, com o resto permanecendo na prisão.

No funeral de Kropotkin, houve grande comparecimento das universidades e Tatiana foi uma das pessoas que carregou uma guirlanda da confederação anarquista Nabat (apesar de, como anarcossindicalista, discordar de suas estratégias) para depositar sobre seu caixão.

Ela voltou para Ryazar, onde sua irmã ainda vivia, após os aprisionamentos massivos de anarquistas e revolucionários socialistas e a supressão da revolta operária contra os bolcheviques em Kronstadt. Anna entrou para o Instituto Pedagógico Ryazan, e se juntou ao grupo anarcossindicalista de lá.

As duas irmãs então se mudaram para Petrogrado, onde trabalharam como enfermeiras. Elas continuaram a participar do movimento anarcossindicalista. Tatiana manteve o contato com revolucionistas em exílio na Finlândia e elas alugaram um quarto em uma casa que por acaso era oposta às janelas do renomado comunista Grigori Zinoviev. Ela foi presa lá em 22 de maio de 1925.

Em breve, Anna, que havia voltado para Ryazan, foi presa no ano seguinte e uma figura de Topilin foi encontrada em seu apartamento. As duas irmãs foram reunidas na prisão de Lubyanka. Elas foram acusadas de pertencerem a uma organização anarquista terrorista e conspirar para matar Zinoviev.

Nesse momento, a interrogação de pessoas com envolvimento na política não envolvia espancamentos ou tortura. As irmãs foram sentenciadas a 3 anos na prisão de isolamento político seguidos de 3 anos de exílio interno. Elas cumpriram seu tempo na prisão de Verkhneuralsk, onde conheceram e se tornaram amigas de outros prisioneiros e prisioneiras políticas, se juntando a elas em protestos coletivos e greves de fome.

Entre elas, estavam a revolucionária socialista Katarina Olitskaya, o anarquista Vsevolzhsky, que era sobrinho do marechal do Exército Vermelho Tukhachevsky e a anarquista Kira Arkadevna Sturmer, que era sobrinha de um ministro do Czar. Em Sverdlovsk, elas conheceram Berta Brodova, esposa de Yuri Podbelsky, um revolucionário envolvido na revolta de Antonov em Tambov (seu irmão Vadim foi comissário dos Correios e Telégrafos no governo comunista).

Em 1928, Tatiana contraiu tuberculose e foi enviada para Chikment. Ela fez um pedido de transferência para seu lar em Ryazan. As autoridades concordaram com isso se ela terminasse suas atividades políticas. Ela assinou uma declaração nesse sentido enquanto manteve suas crenças. Tatiana voltou para Ryazan em 1929, logo acompanhada por Anna, recém-libertada.

No exílio, Tatiana conheceu Nikolai Semenovich Doskalov, um ex-bolchevique belga que no meio dos anos 1920 passou para o lado dos anarcossindicalistas. Junto com seu novo marido, ela se mudou para Malkop, onde, em 1935, foi presa.

Depois da primeira temporada na prisão, ela voltou para Moscou e começou a trabalhar na Biblioteca Lenin. O diretor da biblioteca era Nevsky, um ex-comissário popular do trabalho.

De acordo com Tatiana, ele foi o único comunista decente que já encontrou. Ele não tinha medo de discutir com Stalin, e ele empregava pessoas expulsas do Partido Comunista depois da onda de expurgos. Ele contratou Tatiana e a velha socialista revolucionária Kolosova. Em 1935, Nevsky foi preso, sendo executado em 1937. Tatiana e seu marido fugiram para Malkop. Mas a polícia secreta alcançou o casal. Nikolai foi espancado até a morte durante o interrogatório, e ela pegou cinco anos no campo de Kolyma.

Havia vários comunistas em Kolyma, incluindo opositores trotskystas, mas eles todos se recusaram a ter qualquer coisa a ver com anarquistas, os quais eles consideravam inimigos da revolução. Ela encontrou Katya Olitskaya novamente em Kolyma.

Tatiana, com sua tuberculose, não teria sobrevivido por muito tempo no temeroso campo prisional de Kolyma se ela não tivesse começando a trabalhar no hospital do campo, depois de um de seus pés ter sido amputado como resultado de um enregelamento enquanto trabalhava na floresta.

Tatiana retornou a Ryazan antes da Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, as irmãs trabalharam em um hospital militar, e em 1949 Tatiana foi novamente enviada para Kolyma, onde permaneceu até 1954.

As duas irmãs foram reabilitadas em 1958. De 1962 adiante, Anna fez contato com o escritor Alexander Solzhenitsyn, que estava compilando seu livro enorme sobre o arquipélago Gulag. Ela agiu como sua “secretária ilegal”, ajudando a compilar informação sobre os campos, o colocando em contato com outras pessoas que haviam sofrido nos campos e escondendo documentos para ele. As irmãs sentiam que não havia informação o suficiente no livro sobre Kolyma, que foi “nossa Auschwitz”.

Em seus últimos anos, Anna, desiludida pelos muitos anos de sofrimento e repressão, rejeitou suas crenças anarcossindicalistas e começou a se enxergar como anarquista individualista.

O jornalista anarquista Igor Podshivalov conduziu uma entrevista com as irmãs em 1994. Elas estavam vivendo em Ryazan com pequenas pensões.

Seis meses depois, Anna morreu, em 11 de dezembro de 1994. Tatiana morreu algum tempo depois de 1997.

Em 1997, as memórias de Ana sobre suas atividades no subterrâneo anarquista foram publicadas.

 

Publicado originalmente em libcom
Traduzido por Cami Álvares Santos