Category Archives: poesia

O Protesto

José Oiticica

 

Protesto contra o mal da força e da justiça,
Um degrada a fraqueza, outro excita à agressão;
Contra a fé que reduz o homem a alma submissa,
Iludindo-o com céus que nunca se abrirão.

Clamo contra o senhor, clamo contra a cobiça,
Inventora de leis, criadora da opressão.
Sou Spartacus e odeio a pátria se esperdiça
Meu sangue e faz, do suor, esforço hostil ou vão.

Bradam, no meu protesto, os prantos do passado…
Ira acessa de todo um mundo sofredor,
Mártir do amo, do rei, do padre, do soldado!

Sou a nova intuição contra a lei do Senhor;
Sou a ação que destrói a moral do pecado,
Para erigir o orgulho e libertar o amor.

 

Publicado originalmente em “Sonetos”,
Casa Ramalho, Rio de Janeiro, 1919

 

Trabalhadores do Mundo, Uni-vos

A Anarquia

José Oiticica

 

Para a anarquia vai a humanidade,
Que da anarquia a humanidade vem!
Vede como esse ideal de acordo invade
As classes todas pelo mundo além.

Que importa que a fração dos ricos brade,
Vendo que a antiga lei não se mantém?
Hão de ruir as muralhas da cidade,
Que não há fortalezas contra o bem.

Façam da ação dos subversivos crime,
Persigam, matem, zombem, tudo em vão…
A ideia perseguida é mais sublime.

Pois nos rudes ataques à opressão,
A cada herói que morra ou desanime
Dezenas de outros bravos surgirão.

 

Publicado originalmente em “Sonetos”,
Casa Ramalho, Rio de Janeiro, 1919

 

Anarquia

Primeiro de Maio

Max dos Vasconcelos

 

Dia grande e cruel à memória operária,
Hinos brancos de Paz, hinos rubros de Guerra,
A Bandeira do Amor que se fez incendiária…

Data fatal que em si ao mesmo tempo encerra
A promessa do Bem ao coração do Pária
E juramento de Ódio aos senhores da Terra!

Olhar perdido além, num horizonte vago,
Num sonho em que se vê o Mundo Comunista,
Ou se lembram talvez os mortos de Chicago!

Grande marco miliário à suprema conquista
Do País Ideal onde se esplaina o Lago
Verde-azul da Concórdia a consolar a vista…

Calendimaio! O Sol que te ilumina seja
O último a iluminar as grades da Prisão,
Os muros do Quartel e as fachadas da Igreja;

E amanhã, ao brotar do grande Astro o clarão,
Que aos seus raios triunfais o Homem por fim se veja
Sobre a Terra, a cantar, liberto do patrão!…

 

Publicado originalmente em
A Voz do Trabalhador, Rio de Janeiro, 1º de maio de 1913

 

A Liberdade