Baron, Fanya (1887-1921)

Nick Heath

 

Fanya BaronBaron era o tipo de mulher russa completamente consagrada à causa da humanidade. Enquanto esteve nos Estados Unidos, ela dedicou todo seu tempo livre e uma boa parte de sua magra renda em uma fábrica para avançar a propaganda anarquista. Anos depois, quando a conheci em Kharkov, seu zelo e devoção tinham se tornados mais intensos devido à perseguição que ela e seus companheiros haviam suportado desde seu retorno à Rússia. Ela possuía coragem desenfreada e um espírito generoso. Ela podia realizar a tarefa mais difícil e se privar do último pedaço de pão com graça e completo altruísmo. Sob condições penosas de viagem, Fanya ia para cima e para baixo da Ucrânia para espalhar o Nabat, para organizar os trabalhadores e os camponeses, ou para trazer ajuda e socorro aos seus companheiros aprisionados. Ela foi uma das vítimas da batida de Butyrki, quando foi arrastada por seu cabelo e bastante espancada. Depois de sua escapada da prisão de Ryazan, ela caminhou pesadamente até Moscou, chegando em farrapos e sem um tostão. Foi sua condição desesperada que a levou a buscar abrigo com o irmão de seu marido, em cuja casa foi descoberta pela Tcheka. Esta mulher de grande coração, que serviu à Revolução Social por toda a sua vida, foi levada à morte pelas pessoas que fingiram ser a guarda dianteira da revolução. Não contentes com o crime de ter matado Fanya Baron, o governo soviético colocou o estigma do banditismo sobre a memória de sua vítima morta.

Emma Goldman – My Further Disillusionment in Russia

Nascida em Vilnius, Lituânia, dentro do império russo, Fanya Greck (sua família mudou seu nome para Grefenson nos EUA) se mudou para os Estados Unidos, onde estabeleceu um relacionamento com Aron Baron (também conhecido por Kantorovich), que trabalhava como padeiro. Aron havia fugido para Chicago em 1912. Ele conheceu Fanya (Freide) através de seu irmão Newman (Nahum), que era casado com a irmã mais velha de Fanya, Sarah. Ela era ativa no movimento anarquista em Chicago, e com o Industrial Workers of the World (IWW). Lá, ela se envolveu nas manifestações contra a fome de 1915, ao lado de Lucy Parsons e Aron. Em 17 de janeiro de 1915, ela conduziu o Coral Revolucionário Russo em uma reunião em que Lucy Parsons e outros indivíduos discursaram na Hull House, estabelecida por Jane Addams para ajudar os pobres. A polícia atacou ferozmente a manifestação do lado de fora. Detetives à paisana usaram soqueiras na multidão, enquanto policiais uniformizados atacavam com cassetetes. Fanya foi nocauteada por um dos policiais com cassetete e caiu inconsciente. Ela e outras mulheres russas e quinze homens foram para a prisão. Jane Addams conseguiu fiança para Fanya, Lucy e outras pessoas que foram retratadas na imprensa de Chicago.

Ela voltou para a Rússia com Aron e Boris Yelensky em 1917. Ela esteve ativa na Confederação Anarquista Nabat na Ucrânia entre 1919 e 1920. Ela foi presa com vários outros indivíduos anarquistas pela Tcheka em uma conferência realizada em Kharkhov em 25 de novembro de 1920.

A partir da primavera de 1921, ela esteve na prisão em Ryazan. Ela escapou de lá com mais nove anarquistas, o que foi promovido pela Anarquistas do Subterrâneo – uma rede anarquista clandestina – em 10 de julho de 1921. Ela planejava ajudar Aron escapar da prisão em Moscou. Ela buscou refúgio com o irmão de Aron, um membro do Partido Bolchevique, e foi presa pela Tcheka em 17 de agosto na casa dele. Não está claro se ele a traiu. A Tcheka havia plantado agentes dentro da Anarquistas do Subterrâneo, e providenciou atos de provocação, incluindo falsificação.

Fanya foi executada pela Tcheka em 19 de setembro de 1921 após ter sido considerada culpada de ser “cúmplice de atos criminosos antissoviéticos”, assassinada ao mesmo tempo em que o poeta Lev Tcherny e mais nove anarquistas. Suas mortes se tornaram símbolos da opressão desencadeada contra o anarquismo russo. Ela se recusou a ir mansamente para sua morte, lutando contra seus executores por todo o caminho.

Aron faleceu nos campos de trabalho em 1937.

 

Seu rosto estava voltado para o sol, todo o seu ser estando radiante de idealismo. Sua risada prateada ressoava com a alegria da juventude e da vida, mas eu tremia por sua segurança a cada passo que se aproximava. “Não tema”, ela continuava a me reassegurar, “ninguém me conhecerá em meu disfarce de camponesa”.

Alexander Berkman – The Bolshevik Myth

 

Publicado originalmente em libcom
Traduzido por Cami Álvares Santos