Jon Hochschartner
Nascida em 1887, Maria Lacerda de Moura, a radical de esquerda brasileira, se opunha aos testes em animais. Apesar de ser frequentemente identificada como anarquista individualista, isso parece ser reducionista, já que numerosas fontes a descrevem como uma apoiadora da luta de classes que condenava o capitalismo. De acordo com Francesca Miller, Moura tinha simpatia para com os objetivos do socialismo internacional, mas rejeitava toda afiliação política. Miller sugeriu que ela fazia isso em termos feministas, citando um livro de 1932 escrito pela esquerdista. “Até agora, qual foi o partido ou programa que apresentou uma solução para o problema da felicidade feminina?”, disse Moura. “Quem se lembrou de libertar as mulheres?… A pátria, o lar, a sociedade, a religião, a moralidade, os bons costumes, os direitos civis e políticos, o comunismo, o fascismo, qualquer outro ismo, revoluções e barricadas… continua a ser a escrava, um instrumento habilidosamente manipulado por homens para suas causas sectárias, sedentas de poder, econômicas, religiosas, políticas ou sociais.”
Ela se distanciou da corrente principal do movimento feminista, disse June Edith, “sentindo, aparentemente, que a franquia iria beneficiar principalmente as mulheres de classe média ao invés de ajudar a maioria da população brasileira ou alterar a estrutura social do país”. Mas Moura “não encontrou eleitorado para um movimento feminista socialista”, de acordo com Susan K. Besse.
Em um artigo de 2011 intitulado Representations of Science and Technology in Brazilian Anarchism (“Representações de Ciência e Tecnologia no Anarquismo Brasileiro”), Gilson Leandro Queluz forneceu raras citações em inglês de Maria Lacerda de Moura em relação aos testes em animais. “Eu somente posso compreender a vivissecção como um frenesi de mal indescritível.”, disse Moura. “Eu não consigo nem ao menos ver a vantagem da embriaguez científica que coloca milhares de porquinhos-da-índia e cães e qualquer tipo de animal à mercê de ‘cientistas’.”
Moura ficou horrorizada com os experimentos realizados pelo cirurgião francês Serge Voronoff, assim como muitos parecem ter ficado. Voronoff, um vivisseccionista frequente, era melhor conhecido por transplantar involuntariamente os testículos de chimpanzés em machos humanos em uma tentativa de curar a impotência. “Até 1923, quarenta e três homens haviam recebido testículos de primatas não humanos, e ao fim da carreira de Voronoff esse número havia alcançado milhares”, de acordo com Nathan Wolfe. “Apesar de Voronoff ter herdado uma fortuna como herdeiro de um produtor de vodka, ele ganhou mais dinheiro operando muitos dos mais importantes homens de seus dias.”
Moura afirmava que os procedimentos do cirurgião representavam “o charlatanismo científico do industrialismo moderno, a ciência que serve o bezerro de ouro, a ciência do vampirismo humano exausta pela senilidade precoce que suga as glândulas de animais”. E os clientes de Voronoff, ela disse, eram “homens velhos, ricos e poderosos, cuja consciência foi esmagada pelo parasitismo, cujos cofres foram enriquecidos às custas da exploração de milhares e milhares de trabalhadores, às custas do martírio e do servilismo do rebanho humano”.
Parece haver mais material disponível em outros lugares em relação à sua política de espécie. Algumas fontes declaram que Moura morreu em 1944, enquanto outras dizem que ela faleceu um ano depois, em 1945. Ela estaria na porção final de seus 50 anos.
Publicado originalmente como
“De Moura Opposed Animal Testing”
em Vegan Feminist Network
Traduzido por Cami Álvares Santos