Hipocrisia Vermelha e Preta (e Marrom)

Laure Akai

 

Há alguns meses atrás veio à tona que havia alguns nazistas dentro da Confederación General del Trabajo (CGT) na Espanha. Eles foram expulsos depois de um escândalo midiático, com a CGT alegando que tinha sido infiltrada, que não sabia e reagiu imediatamente. Outros de dentro da CGT reclamaram que as pessoas sabiam, mas nada foi feito a respeito disso. É claro que o último caso sugeriria que o sindicato tolerava esta presença direitista.

Em Setembro, a Coordinadora Roja y Negra (CRN) se reuniu e uma das coisas que decidiu foi combater a direita pela publicação em comum de uma brochura analisando o levante da direita na Europa. Esta poderia ser uma boa ideia – tirando o fato de que fica a pergunta sobre quão profundo a análise pode ir se ela se recusa a analisar o envolvimento direitista nos sindicatos participantes da CRN.

Nossa afiliada local da CRN na Polônia teve um número considerável de incidências, mas, diferentemente da CGT, nem ficam com vergonha quando são pegos. Mais recentemente, a questão é como a Inicjatywa Pracownicza (“Iniciativa Operária”) cooperou com o Ogolnopolski Ruch Narodowy (“Movimento Nacional de Todas as Polônias”). Alguns deste posteriormente se uniram à Inicjatywa Pracownicza e estão atualmente disputando a eleição junto a outros candidatos da IP. Enquanto isso, a página virtual da IP encoraja os leitores a enviarem doações aos comitês eleitorais da coalizão.

Diferentemente do assunto dos nazistas na CGT, a cooperação com o Ogolnopolski Ruch Narodowy é conduzida bem abertamente. (Uma busca rápida no Google por inicjatywa pracownicza ogolnopolski ruch narodowy irá mostrar que isso está até mesmo escrito abertamente nas páginas da IP). Ela é também conduzida sem qualquer grande controvérsia, já que tais coisas já são algum tipo de norma aceita na organização.

Enquanto as eleições se aproximam na Polônia e nós nos enojamos pela prostituição alastrada que testemunhamos, o apelo para apoiar os comitês preparados pela IP em duas cidades chamou a atenção das pessoas, assim como o fato de que os indivíduos concorrendo poderiam ser membros duplos da IP e do Ogolnopolski Ruch Narodowy (ORN). Também era interessante que, pelo menos no caso de Roman Weiss, representante da ORN e da IP, o candidato também podia ser um pequeno empresário e patrão. Interessante, mas infelizmente não supreendente.

Um companheiro meu decidiu escrever um artigo noticiando isso e foi cuidadoso o suficiente para ser tão diplomático quanto possível após uma avalanche de lixo eletrônico de amantes da CGT no começo do mês e a esperada atividade de trolagem que se seguiria à publicação da estória. Ele ligou para um membro da IP encarregado de um destes comitês e pediu um comentário ou uma explicação. A razão dada foi bastante esfarrapada: nem anarquistas nem comunistas autoritários queriam trabalhar junto com eles, então eles tiveram que encontrar alguém.

Quando a notícia sobre os nazistas da CGT foi publicada, eles emprenderam grandes esforços para se distanciarem disto. Em contraste, logo após a publicação da notícia sobre os nacionalistas direitistas na IP, abertamente anunciando sua filiação dupla, incluindo participação no comitê eleitoral, o Secretariado da IP enviou instruções para seu rebanho: não comentem nem entrem em discussões a respeito disso. Apenas vão em frente, apenas sigam adiante!

Apesar disso, alguns de seus camaradas simplesmente não conseguiam resistir. Você acha que alguém da organização disse que esse era um problema que precisava ser resolvido? Não – de novo o problema não foi a estratégia de coalizão de certas comissões da IP ou a tolerância da direita – o problema era a nossa organização, a Związek Syndykalistów Polski (ZSP-AIT). Como um sujeito comentou, o sectarismo de algumas pessoas não conhece fronteiras.

Não há dúvida de que o pessoal da CRN após ouvir esta última irá de novo não fazer nada, já que é mais convincente para eles acreditar em complôs para descreditá-los ou em zelotes sectários do que fazer alguma coisa para lidar com a verdade desagradável. Ou alegar que não sabiam, apesar de que não saber seria o resultado de não escutar.

 

Publicado originalmente como
“Red and Black (and Brown) Hypocrisy”
em libcom, 16 de novembro de 2010
Traduzido por Cami Álvares Santos