Nelson Méndez
Com a quebra das certezas estáticas que haviam reinado nas décadas anteriores a 1990, as ideias e práticas ácratas passaram a ter uma audiência que lhes era desconhecida há tempos, mesmo sem gerar um auge imediato ou sem maiores trâmites. Às vezes operaram influências de fora da área continental, quando ficou claro que o pensamento e a ação mais chamativos no resto do mundo em referência à reativação das lutas sociais, à organização coletiva que superasse os falidos modelos leninistas, ou à definição de propostas revolucionárias consequentes, vinha em medida crescente do campo libertário. A isto se une o descobrimento que distintos atores sociais, em contextos diferentes, faziam agora tanto das ideias do anarquismo como de sua história em nossos países, pois na esquerda a excludente hegemonia doutrinária do marxismo e de seus parciais estava se debilitando. Assim, ao longo de um intervalo que chega até hoje e cobre todos os confins da América Latina, um crescente número de ativistas, de jovens com perguntas e inquietudes, de mulheres, de indígenas, de estudantes, de trabalhadores, de pessoas com curiosidade intelectual, se aproximam do ideal anarquista com interesse que só tem precedentes no que despertou no começo do século XX.